27 de set. de 2011

Deixe que eu resolvo!

Fonte: Você SA - Publicada em 23/04/2007


O executivo brasileiro, em geral, é excelente realizador, altamente comprometido com suas funções, preparado para lidar sem susto com situações de escassez de prazos e de informações. É criativo, otimista, tem equilíbrio emocional, estabelece relações sociais amplas, mas... normalmente tropeça quando o assunto é delegação.

A pedra no caminho do desenvolvimento de nossos profissionais é a baixa capacidade de transmitir poder às equipes.

Existe, sim, a transferência de tarefas, de papéis operacionais, mas o ato de delegar ainda está longe do desejado. Os chefes, em sua maioria, não dão liberdade de ação a seus funcionários, afirma a consultora Rosa Bernhoeft, da Alba & Bernhoeft Associados. Não há espaço para que o outro julgue, decida e execute segundo os próprios métodos.

Ao longo de dez anos, Rosa Bernhoeft conduziu uma pesquisa inédita sobre competências.

Acompanhou a trajetória de 7.500 profissionais de 200 empresas dos setores público, hospitalar, industrial e de serviços. No fim, chegou a um perfil consistente do trabalhador brasileiro.

O que existe atualmente é uma delegação pela metade: os funcionários assumem mais responsabilidades, mas não têm a visão do todo, não sabem qual a finalidade de tanto esforço. Esse desencontro de informações provoca sérios ruídos no relacionamento das equipes. O chefe passa a bola para a frente, mas não deixa claro o que a organização espera do serviço. O funcionário, por sua vez, dá duro, mas vive angustiado de estar ou não fazendo bem-feito — e, por isso, resiste às novas atribuições.

Mas por que isso ainda acontece numa época em que o trabalho em equipe está sendo tão glorificado quanto agora? Por que é tão difícil delegar? Na opinião dos especialistas, na maioria dos casos trata-se de uma cilada armada pelo perfeccionismo. O executivo brasileiro está extremamente preso aos detalhes. Na pesquisa da Alba & Bernhoeft, 67% dos profissionais admitiram que gostam das minúcias, enquanto 91% disseram verificar as rotinas com muito cuidado. Isso, é claro, tem o lado bom: o trabalho e as decisões costumam ser executados de maneira exemplar. O problema, porém, é que, por ser tão avesso a deslizes, nosso executivo tem pouca disposição para correr riscos. O resultado é que ele acaba dando conta do recado sozinho, só para não perder tempo educando seus subordinados.

Num ambiente de competição feroz, o chefe precisa mostrar que é bom, e ainda acreditar que a melhor maneira de fazer isso é virar um super-homem, concentrar responsabilidades, diz a consultora Gisela Kassoy, especialista em criatividade. E, centralizando as decisões, o executivo consegue fugir também de outro ponto fraco: o feedback.

Há ainda uma outra questão que provoca distorções na hora da delegação: é o feitiço provocado pelo poder, o caráter de essencialidade que a empresa embute no cargo. Em seu imaginário, o profissional de alto escalão se acha insubstituível, relaciona qualquer falta sua à falência da empresa, diz a consultora Maria Aparecida Schirato, pesquisadora das relações trabalhistas e autora do livro O Feitiço das Organizações — Sistemas Imaginários. Para Aparecida, o discurso louva o trabalho em equipe, mas a prática empurra o líder a tomar cada vez mais decisões solitárias. O profissional só vai conseguir delegar se estiver muito bem resolvido tanto na vida profissional quanto na pessoal, diz Aparecida. Se isso não ocorre, a insegurança o massacra e ele sempre vai achar que consegue fazer melhor que os outros.

Saber delegar é uma das competências mais fundamentais para quem deseja ascender profissionalmente — e se manter no topo. Os esforços do verdadeiro líder devem estar vinculados à estratégia, ao crescimento dos negócios da empresa e de seus talentos humanos, afirma a consultora Rosa Bernhoeft. O desafio de aprendizagem existe, mas começa a ser vencido quando o profissional encara a delegação como um trunfo, identifica o potencial de cada membro da equipe e o utiliza para obter os melhores resultados para a organização e para o próprio portfólio.

Demonstrar habilidade interpessoal hoje vale ouro!

1 comentários :

  1. Muito bom. Reconheço que sofro desse mal, e todos os momentos em que me pego pecando na ausência de delegação, tento me corrigir, mas é complicado. Quando menos percebo, já estou lá executando a tarefa.

    Valeu pelo texto. Estou exatamente agora trabalhando em uma tarefa, por achar que não havia a quem delegar. Será?

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Comentários